O MOSAICO DE CITAÇÕES
Este ser, recebe em sua casa inúmeras visitas, escuta as mais diversas vozes há dizer o que fazer, onde deve estar e por onde caminhar. Quando lhe é requisitado a falar, logo, visivelmente um de seus amigos vai chamar. Seus conceitos estão fechados, seu mundo é padronizado, sua vida é alinhada, linearmente direcionada: a repetir, concordar e expressar o que há de escutar.
Quando vai desenhar olha ao lado, para ver o que o outro está a fazer, assim é no falar e também no escrever. É pacífico, sem ação, sem idéias, sem direção. Por um cordão ainda está amarrado, entrelaçado, subordinado, despedaçado.
Sua poesia é sem alegria, não mostra quem ele é. Seus versos mortos, se repetem, se entristecem, não se enlouquecem.
O Mosaico somente cita a ação, mas não a faz, não é capaz, não cria coragem, de mostra-la, de cria-la e recria-la, de ama-la, de excitá-la. É isso que o mosaico quer ser, apenas ler, copiar e sintetizar. Não quer plantar, somente podar, não quer construir, só rebocar, não quer beijar, só olhar. Quer ser alguem que como um papagaio, não fala sem primeiro escutar. Tem que ouvir e reproduzir, tem medo de cair, por isso nem quer subir.
Este é o mosaico, sua vida sem ação, lhe falta tesão, amor, paixão, linguagem, sacanagem, verdade, absurdos e insultos. Ele é o que os outros querem que seja. Ele só cita, não faz ação, ele só cita a ação.
O CORAL
O Coral adora cantar, dançar, escrever, amar, jogar, expressar-se. Ele recebe inúmeras visitas, muitas vozes ouve também. No entanto nem tudo o que lhe é dito é aceito. Uma de suas grande qualidades é a indagação, ele questiona, provocar e gera discussão. Ouvi idéias, recebe propostas, arma respostas.
Quando lhe é convidado a desenhar, olha para o lado, observa atentamente, e quer se diferente. Quando vai falar, utiliza seus conhecimentos, que aprendeu, que significou, que se apropriou, mas que não copiou.
Ele mesmo diz que aprender é um ato de escutar e, também, avaliar, analisar e observar. O Coral as vezes fica amarrado, amordaçado, mas não parado, desfazendo-se dos nós, libertando-se da prisão, expondo suas idéias, arrumando confusão.
Tece nos caminhos da vida os mais belos versos de amor que lhe vem de inspiração. Alegra-se ao escrever, e também gosta de ler. A leitura por sinal é sua grande aliada, dali ele conhece, amadurece, se engradece. Quando lê algum escrito, não pensa em reproduzir, mas dar outros sentidos, outros atritos, outros resquícios.
Como já falado, o coral ama cantar, não é atoa o seu nome. Uma das história mais bonitas de sua vida, foi o dia que o mesmo cantou, se apresentou. Preparou-se arduamente, chamou um monte de gente, pra ajudar, pra trabalhar, pra se alegrar, pra aprender e ensinar. Muitas pessoas compareceram para ver o que iria cantar, que tipo de canção, que tipo de ação. E no grande dia uma surpresa repentinamente foi anunciada, ele não iria cantar, na verdade até iria, mas sozinho não queria. Como que em um momento de alegria, fantasia, transformando o instante numa polifonia, chamou todos a cantar. Construindo naquele momento, sem medo de cair, no abismo a subir, uma linda canção.
Não pode-se aquilo explicar, eram todos a cantar, a amar, se alegrar, se esbaldar. Uma lição todos puderam aprender. Que pra crescer, amadurecer, ter identidade, falar a verdade, ser você, não ser uma reprodução, é preciso ter coragem, ser crítico. Loucuras muitas vezes devem ser feitas, com tesão, animação, astral, sem medo de pensar, de uma diarréia intelectual.
O Coral mostrou que sua música foi tecida, com diferentes versos, com uma grande construção. Idéias rebatidas, questionadas e explanadas. O Coral não é, e nunca foi sozinho ele é polifônico e continua a seguir os seus caminhos.
SOBRE OS TEXTOS
O textos propõe-nos a pensar em diferentes visões do escrever, do ler, do construir idéias. Quando Barthes nos fala em levantar a cabeça, tomar o texto como não sendo do autor, mas criar nossos sentidos e significados, podemos nos refletir sobre a reprodução, a produtividade acelerada, que agarrada a idéias de outros sujeitos, somente são repassadas, clonadas.
O conceito de mosaico de citações foi tomado para um sentido de reprodutividade, onde são várias faces, vários fragmentos que são por si só. Juntados, colados, copiados, para um momento de não construção, mas apenas como diz o próprio texto, citar a ação.
Já o segundo texto propôs uma idéia de integração de idéias, diálogos, debates, fazendo-nos lembra de Platão, ao apresentar os diálogos de Sócrates.
Cada um poderá ter sua impressão, foi uma idéia de trazer o coral polifônico e o mosaico de citação.